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Round Trips

Round Trips: Capítulo 8 – Guia de Florença

Por: liketour | 15/09/2019

2019 é um ano de novidades para o liketour. Além, do já conhecido liketour cast, teremos novos conteúdos, com mais dicas e histórias de viagens para você.  Uma delas é a série de entrevistas no formato escrito, batizada de Round Trips*, onde conversamos com pessoas criadoras de sites, empresário e escritores de livros sobre turismo.

Cristiane Oliveira é brasileira do Rio de Janeiro, mas, escolheu em 2007 Florença como sua segunda pátria. Desde então, se apaixonou pela cidade, pela arte e pelas tradições florentinas. O desejo de conhecer melhor e de descobrir os tesouros desta cidade, foi o motivo pelo qual decidiu ser um profissional na área de turismo.

Cristiane de Oliveira

LT: Aqui no Brasil você era uma profissional da área financeira, e hoje atua como guia em Florença. Conte-nos como foi essa transição de carreira e o que essa sua experiência profissional anterior te ajuda no trabalho como guia?

Cristiane: Sou o que poderíamos definir um ser mutante. Tenho muita facilidade de me adaptar a certas situações. O meu grande sonho de menina era estudar arqueologia e sempre gostei muito história. O primeiro vestibular que fiz na vida, foi para psicologia, mas em seguida consegui um emprego na área financeira. Mudei de universidade, cidade e curso. Decidi fazer Ciências Contábeis. Trabalhei na área por 12 anos. Depois o vento virou e tive oportunidade de trabalhar na área de Recursos Humanos. Daí decidi estudar Gestão de Recursos Humanos. Fui feliz também como gestora de pessoas. Quando me mudei para Florença, tentei revalidar meus estudos e tive muitas dificuldades. Na verdade, tive que retornar para a Universidade e em Florença, apostei novamente na área financeira: me matriculei na UNIFI no curso de Economia Aziendale, uma espécie de economia empresarial. Contemporaneamente, fundei o meu primeiro blog, as Notícias da Bota.

No início, comecei a escrever a minha vida de imigrante, sonhos, descobertas e dificuldades. Depois, comecei a sentir a necessidade de estudar e conhecer a história de Florença, como uma forma de me ajudar na adaptação. Comecei a escrever sobre o turismo na Itália e começaram a chegar diversos pedidos dos leitores para acompanhá-los nos passeios pela Toscana. Recusei todos, pois sabia que para acompanhar turista, eu precisava de uma habilitação. Fui de férias para o Brasil, e conversando com um grande amigo, confessei que tinha muita vontade de trabalhar com turismo, mas eu precisava terminar o curso de economia, pois não era possível fazer as duas coisas contemporaneamente. Meu amigo disse: Cris, nessa altura do campeonato, faz aquilo que seu coração manda. Um mês depois, ao retornar a Florença, tranquei a universidade e iniciei o c urso preparatório para o exame de guia de turismo. Tive dificuldades no início, pois o curso já havia iniciado há 03 meses. Mas deu tudo certo e hoje sou feliz com o caminho que decidi fazer.

Tudo que eu estudei na vida de certo modo eu utilizo na minha atual profissão. A parte financeira utilizo na apuração dos custos dos passeios e na apuração dos meus impostos e taxas. Não tenho a mínima dificuldade de fazer a minha contabilidade e meu imposto de renda. Acho que todos deveriam ter um mínimo de conhecimento da área financeira, ajuda muito a gerir o seu próprio negócio. E o curso de gestão de pessoas, é fundamental na minha profissão.

Cidade de Florença ao anoitecer

LT: A Itália é tradicionalmente um dos países que mais recebem turistas no mundo. Antes de morar no país, como era sua visão de turista em relação a Itália e a cidade de Florença?

Cristiane: Acreditem: visitei a Itália uma única fez e fiquei apaixonada pela história e cultura desse povo. Fiquei um mês e explorei o país de norte a sul. Conheci as principais cidades, como Veneza, Verona, Toscana, Roma, Costa Amalfitana, Pompéia e Nápoles. Visitar a Itália como turista é um sonho, creio, de quase todo brasileiro, mas a vida de imigrante não foi muito fácil. Quando me mudei para a Itália, tive um choque. O primeiro ano foi muito difícil.

Hoje creio que o turismo na Itália é mal distribuído. Todos querem visitar as mesmas cidades e os mesmos museus. Existem tantas cidades e museus menores, mas nem por isso menos importante, que a maior parte dos visitantes desse país desconhecem. Até mesmo em Florença, todos querem visitar a Academia e ver o David de Michelangelo ou visitar o Uffizi para ver a Vênus de Botticelli e desconhecem por exemplo a Capela dos Médici, onde é possível ver Michelangelo como escultor e como arquiteto.

LT: Florença é uma cidade que tem sua economia quase toda baseada no setor turístico. Isso torna uma viagem a Florença cara? No geral, quanto em média, o turista vai desembolsar por dia?

Cristiane: Florença é uma cidade cara, inclusive para os seus habitantes, e é claro que é por conta do turismo. Noto isso quando viajamos para outras regiões italianas. O transporte público custa cerca de 2 a 2,50 euros por pessoa, os museus custam cerca de 20, 24 euros por pessoa. Para visitar os museus é possível comprar a Firenze Card que tem duração de 03 dias e custa cerca de 72 euros. Um almoço em um bom restaurante você gasta cerca de 40 e 50 euros por pessoa. É claro que tem restaurantes mais baratos, que são frequentados pelos trabalhadores, que ficam escondidos no centro. Nesses restaurantes, é possível encontrar um prato de massa por 07, 10 euros.

LT: Florença foi uma cidade dos grandes artistas do Renascimento, mas além de buscar as grandes obras de artes e conhecer a história dos florentinos históricos, o que mais o turista que visita à cidade busca? Trocando em miúdos qual o perfil dos seus clientes?

Cristiane: Felizmente, Florença e a Toscana pode oferecer diversas possibilidades de atividades para todos os gostos. É possível fazer um percurso religioso e é muito procurado por grupos de peregrinos. Temos outros visitantes que buscam história e arte e temos também os tours eno gastronômicos. Porém, o que tenho percebido é que tem crescido muito os visitantes que procuram viver experiências, ou seja, cursos de cozinhas, visitarem os artesãos, participarem da produção de azeites, vinhos, etc.

 LT: No Brasil, e na América em geral, temos muitos descendentes de italianos. É comum entre seus clientes terem pessoas que vão buscar as raízes italianas? E como é esse resgate da história família?

Cristiane: Tive poucos clientes que estavam em busca da cidadania. Creio Florença não é a cidade ideal, principalmente pelo custo de vida, para quem deseja fazer o reconhecimento da cidadania. Acredito que nas cidades menores, o processo é mais veloz, além da facilidade de alugar um apartamento. Durante o processo de reconhecimento, a pessoa não pode se ausentar muito de casa, porque é necessário esperar o “vigile” passar para confirmar a residência. Dessa forma, as pessoas ficam em casa esperando o vigile, sem saber o dia e a hora que finalmente ele fará a visita.

Florença vista do alto

 LT: Quando falamos de Itália, estamos falando de uma das melhores culinárias do mundo. Conte-nos sobre as experiências gastronômicas dos turistas? E nos diga após uma viagem à Itália fazer dieta é obrigatório?

Cristiane: A Toscana é um paraíso para os amantes de boa comida e bom vinho. Mas para apreciar um prato típico, tem que esquecer a culinária italiana que conhecemos no Brasil. A cozinha toscana é o que podemos chamar de cozinha pobre pois os ingredientes principais são pão, azeite e verduras. O prato nobre é a bisteca Fiorentina, um corte de carne com o osso no meio com filé e contra filé, o famoso t-bone. Outro prato típico é o famoso Lampredotto, mas seu contar o que é ninguém come! Esta semana fizemos o primeiro tour enogastronômico dentro da cidade de Florença. Visitamos alguns locais onde é possível degustar os pratos típicos da cidade, além claro, de enfatizar os fatos históricos ligados a culinária florentina.

Quanto aos vinhos, temos para todos os gostos e preços: Chianti, Brunello, Solaia, Vernaccia, Vino Nobile, etc. Os nossos passeios pelas vinícolas são muitos procurados. A maior parte dos clientes quer conhecer os grandes produtores de vinhos, mas eu insisto que é uma grande experiência conhecer as vinícolas menores que ainda possuem gestão familiar. É um verdadeiro mergulho no mundo do vinho, ter o contato com o proprietário, que conta os segredos da produção que vai passando de pai para filho.

Outra grande atração é a caça do tartufo (trufas). Além de ser uma grande experiência gastronômica é uma verdadeira aventura ser guiado por um cachorrinho pelos bosques da Toscana. É interessantíssimo ver o cachorrinho correr com o focinho para cima pelos bosques e enlouquecer quando o vento espalha para todos os lados o odor do tartufo. O ápice é a alegria do cachorro e dos hóspede, quando essa maravilhosa iguaria é finalmente encontrada. O tour termina sempre com um almoço, claro, a base de tartufo.

LT: E a pergunta que não quer calar… A pizza italiana é melhor que a brasileira? Como moradora da Itália a mais de 10 anos, como você as compara?

Cristiane: Essa é uma pergunta difícil e a maior parte dos brasileiros, pensam que chegarão à Itália e encontrarão a Pizza Portuguesa, ou repleta de queijos. As pizzas brasileiras valorizam muito o recheio, as italianas não. O protagonista da pizza italiana não é o queijo, é a massa. A dica é, ao provar uma pizza italiana, esqueça do recheio, e se concentre na massa. Pizza com massa fina, assada no forno a lenha: esse é o perfil da pizza italiana. Os recheios são aqueles clássicos, sem muitas variadas. Uma coisa importante: na maior parte das pizzarias e restaurantes, a pizza é individual e, por favor, não coloque Ketchup e mostarda, pois corre o risco do garçom enfartar!

Hoje, confesso, prefiro a pizza italiana, que apesar de ser individual, é mais leve e saborosa. A melhor pizza da Itália é a de Nápoles.

LT: Para o turista conhecer bem Florença, quantos dias você recomenda ficar na cidade? E a partir de Florença quais outras podemos visitar em bate volta?

Cristiane: Florença, apesar de ser uma cidade pequena, possui um patrimônio histórico que em um mês não é possível conhecê-lo. O mínimo recomendado é 03 dias, para visitar pelo menos os principais museus e igrejas.

Florença é uma cidade que é estratégica para visitar diversas locais, principalmente porque é localizada no centro da Itália. Você pode fazer um bate e volta até para as cidades mais distantes, como Roma, Milão, Veneza – a viagem com o trem é pouco mais de 1h30.

É possível utilizar Florença como base para fazer um bate e volta nas seguintes cidades da Toscana: Siena, San Gimignano, Certaldo, Chianti, Montalcino, Pienza, Montepulciano, Bagno Vignoni, San Quirico d’Orcia, Pisa, Volterra, Arezzo, Cortona, Livorno, Lucca, Pitigliano, Carrara, Bolgheri. Ainda é possível visitar as Cinque Terre na Ligúria.

Rio Arno

 LT: Uma cidade de com pontos turísticos artísticos e históricos que estão presentes nela há séculos, como o setor turístico de Florença faz para renovar as atrações para que o turista possa voltar a cidade e ver novidades?

Cristiane: Florença é uma cidade que está sempre promovendo diversos eventos durante o ano: shows de rock, semana da moda, semana do artesanato e claro diversas exposições ligadas ao patrimônio histórico. Todos esses eventos, atraem todos os anos diversos visitante, além claro da beleza e da riqueza do patrimônio histórico da cidade. Em 2018, Florença que é uma cidade com cerca de 380 mil habitantes, teve 10 milhões de pessoas registradas nos hotéis, sem contar com aquelas que fizeram bate e volta na cidade.

 LT: Num lugar de tantas atrações para visitar, qual é o TOP 3 de Florença? Os três principais lugares que o turista que tiver pouco tempo na cidade não pode deixar de ir.

Cristiane: Essa é a pergunta mais difícil. Vou escolher 03 coisas fora do roteiro clássico. A primeira dica é para amantes da pintura: visitar a Cappella Brancacci com os afrescos de Massaccio, o primeiro grande pintor do renascimento. Quem não conhece a obra deste pintor, não será capaz de entender o que foi o Renascimento. A Capella Brancacci foi chamada de escola do mundo. Grandes gênios da pintura renascentista, como Michelangelo, se inspiraram nos afrescos da Brancacci.

Para amantes da escultura e arquitetura, a Capela dos Médici. Além de esculturas feitas por Michelangelo, na sacristia nova, é possível entender a arte de Michelangelo arquiteto. Toda a arquitetura da sacristia nova foi feita pelo Divino Michelangelo.

Outro local que vale a pena visitar em Florença e é, gratuita é a igreja de San Miniato al Monte. Trata-se de uma igreja que foi construída em cima de uma colina, que era considerada sagrada pelos romanos. A igreja é uma das mais antigas e mais bonitas da cidade. Em 2018 completou 1.000 anos. Lá de cima da igreja, você encontrará além da paz espiritual, a vista mais bonita da cidade.

Turista em Florença

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