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Round Trips

Round Trips: Capítulo 23 – Descobrindo Varsóvia

Por: liketour | 01/04/2022

2022 continuamos com excelentes conteúdos no liketour. Além, do já conhecido liketour cast, teremos novos conteúdos, com mais dicas e histórias de viagens para você.  Uma delas é a série de entrevistas no formato escrito, batizada de Round Trips*, onde conversamos com pessoas criadoras de sites, empresário e escritores de livros sobre turismo.

Gizelli é brasileira e polonesa, pois nasceu em uma família mista, sua mãe é brasileira e seu pai, polonês. Nascida em São Paulo desde cedo teve sua vida dividida entre os dois países. Em 2015 mudou definitivamente para Varsóvia, cidade que tem um lugar especial em seu coração e onde ela chama de “casa”. Desde 2019, é criadora da página Descobrindo Varsóvia, onde mostra um pouco da cidade e do país para os brasileiros.

 

Gizelli Gliwic

 

LT: Como foi a sua migração do Brasil para Varsóvia? Antes de morar na Polônia qual era sua relação com o país? Início do bate papo 

Gizelli: Por ser filha de polonês, sempre tive uma relação próxima com o país, minha casa sempre foi um mix de tradições, cresci tendo contato com vários aspectos da cultura polonesa e na minha infância/adolescência, na década de 90, morei em Varsóvia, junto com meus pais e irmãos. Após um tempo,  retornamos ao Brasil. Mas em 2015, resolvi voltar a Polônia, para ficar mais perto dos meus irmãos que já tinham voltado ao país uns anos antes. Além da questão familiar, um ponto muito importante para minha mudança foi a questão da qualidade de vida na Polônia, que na minha opinião é bem melhor da que tinha em São Paulo.

LT: Como surgiu a ideia de criar o Descobrindo Varsóvia e quais serviços vocês oferecem a quem quer visitar a cidade?

Gizelli: Desde que voltei pra Varsóvia, aconselhei muitas famílias brasileiras que estavam de mudança pra cá. Ajudei com a língua polonesa e com dicas, tirando dúvidas e mostrando a cidade.

Em 2016 fui convidada para fazer parte do grupo de colunistas da plataforma Brasileiras pelo Mundo, onde escrevo sobre a Polônia.

Com o tempo, pessoas foram me indicando informalmente como guia e eu fui gostando cada vez mais de mostrar como Varsóvia é uma cidade rica em beleza e cultura. Por conta disso, resolvi me inscrever no curso de guia de turismo da cidade, e assim que terminei o curso, criei o perfil Descobrindo Varsóvia no Instagram, onde mostro um pouco da cidade, conto um pouco da história e espero fazer com que meus seguidores sintam vontade de descobrir Varsóvia comigo.

No Descobrindo Varsóvia ofereço diversos tipos de serviços, como:

  • City Tours em Varsóvia – personalizados para atender melhor as expectativas dos clientes.
  • Tours temáticos.
  • Tour de conexão – quando o cliente tem só algumas horas na cidade.
  • Acompanhamento do aeroporto até o hotel.
  • Acompanhamento em outras cidades polonesas.
  • Roteiros personalizados para Varsóvia e também outras cidades do país.

 

 

LT: Na região sul do Brasil temos muitos descendentes de poloneses. É comum entre seus clientes terem pessoas que vão buscar as raízes polonesas? E como é esse resgate da história família?

Gizelli: Sim, a comunidade polonesa no Brasil é enorme, especialmente na região sul! O Brasil é o terceiro país com o maior número de ascendentes de poloneses no mundo.

Por isso, é bastante comum meus clientes serem netos, bisnetos ou até tatatanetos de poloneses, que vem ao país para descobrir de onde seus ancestrais saíram.

É emocionante mostrar a Polônia para eles, pois é um país totalmente diferente do que eles conhecem pelas histórias contadas nas famílias.

A primeira fase de imigração polonesa no Brasil começou a 150 anos atrás, então são muitas gerações que cresceram com histórias de um lugar que não existe mais, que passou por muitas dificuldades, mas que venceu, evoluiu. E mostrar essa evolução, essa diferença é muito legal.

Infelizmente, ainda não tive clientes que quisessem fazer essa busca familiar, para conhecer locais onde familiares moravam ou frequentavam, mas sei que quando aparecer essa oportunidade, vou adorar!

LT: No geral quando pensamos em viajar para a Europa a Polônia não é um dos destinos mais procurados.  Como a Polônia se destaca em relação aos outros países, como é o perfil do turista brasileiro que visita Varsóvia?

Gizelli: Infelizmente a Polônia ainda não está na lista da maioria dos brasileiros que viajam para a Europa, o que é uma pena, pois o país tem muito a oferecer.

Muita gente ainda tem na cabeça a imagem de uma Polônia comunista, um país pobre, feio, destruído pela guerra e quando chegam aqui, todo mundo vê que não é assim!

A Polônia toda é surpreendente, com muita coisa linda e interessante para se conhecer, mas ainda hoje a temática sobre a Segunda Guerra Mundial é o que atrai muitos turistas.

Varsóvia é uma cidade segura, moderna e ao mesmo tempo cheia de história para contar. É uma cidade onde tranquilamente podemos usufruir do transporte público, uma cidade com uma excelente rede de hotéis para todos os tipos de bolsos, restaurantes deliciosos, uma cidade super vegan-friendly, onde encontramos opções de lazer para todos os gostos.

A grande maioria dos brasileiros acaba se arrependendo de não ter reservado mais dias para ficar no país. O bom é que muitos voltam outras vezes para passar mais tempo no país.

 

Palácio da Cultura e Ciência em Varsóvia

 

LT: A Polônia tanto o inverno quanto o verão são muito rigorosos. Existe um período melhor que você recomenda viajar para a Varsóvia?

Gizelli: Eu sempre falo que a melhor época para fazer a viagem é quando a pessoa pode e qual a experiência que ela quer ter.

A cidade muda totalmente conforme as estações do ano e elas são muito bem definidas.

No inverno é aquela coisa mais melancólica, amanhece tarde, escurece cedo, faz frio.

Na primavera a cidade começa a florescer, os dias são um pouco mais longos, a temperatura já é um pouco mais alta.

No verão a cidade pulsa, amanhece cedo e escurece tarde, então o dia é longo, as temperaturas são altas.

No outono, temos o Outono Dourado Polonês, que é lindo! Os dias começam a ficar mais curtos, as temperaturas começam a cair.

Por causa das mudanças climáticas, o clima em Varsóvia já não é mais o que era antigamente, tanto no inverno quanto no verão. Durante o inverno, o frio não é mais tão rigoroso, é difícil nevar com muita frequência, então se o turista fizer questão de ver neve, Varsóvia pode não ser a melhor opção. Em compensação, o aumento nas temperaturas e na secura do ar durante o verão, muitas vezes faz a cidade dar alerta para os moradores, pedindo para que idosos e crianças evitem sair ao ar livre.

A cidade tem seus encantos em todas épocas do ano e é aí, que entra a preferência do cliente. Não adianta eu falar que a melhor época é o verão, se a pessoa odeia calor ou se ela quer experimentar a sensação de fazer uma viagem no inverno.

 

Outono em Varsóvia

 

Monumento a Frederic Chopin em Varsóvia

 

LT: Um dos lugares mais procurados pelos turistas é o Campo de Concentração de Auschwitz. Qual é a expectativa que os turistas tem em conhece-lo e qual é a sensação deles ao saírem de lá?

Gizelli: O Campo de Concentração de Auschwitz realmente é um dos lugares mais procurados no país pelos turistas do mundo todo. Muita gente só vem para a Polônia por causa dele e por isso, acabam reservando poucos dias no país.

O Campo fica na cidade de Oświęcim, perto da cidade de Cracóvia, então quem vem só com a finalidade de conhecer o Campo, muitas vezes só vê Varsóvia durante o caminho do aeroporto até a estação de trem, o que é uma pena.

Eu sempre comento que todas as pessoas do mundo deveriam visitar Auschwitz pelo menos uma vez na vida, para ver com os próprios olhos do que o ser humano é capaz. É uma experiência triste, mas necessária, ainda mais nos dias de hoje, onde estamos vendo uma onda crescente de antissemitismo, racismo, homofobia e tantas coisas ruins acontecendo no mundo.

Não conheço ninguém que tenha visitado Auschwitz e tenha saído de lá do mesmo jeito que entrou, algumas pessoas sentem mais, outras menos, mas de um jeito ou de outro, a visita mexe com a gente.

Para quem está hospedado em Varsóvia, a melhor opção para visitar Auschwitz é ir de trem até Cracóvia e de lá pegar algum dos transportes até a cidade de Oświęcim, que pode ser trem, pequenas vans ou ônibus. Sempre recomendo o ônibus, pois existem empresas que deixam os turistas dentro da área do Museu do Campo de Concentração Auschwitz-Bikernau.

Uma dica muito importante é ficar de olho nos horários de volta dos transportes para Cracóvia!

 

Campo de concentração de Auschwitz

 

LT: Para o turista que sai do Brasil, como ele chega a Varsóvia e quanto tempo você recomenda permanecer na cidade?

Gizelli: Infelizmente, não existem voos diretos entre Brasil e Polônia, então sempre precisamos fazer escala em algum outro país europeu e de lá, pegar outro vôo para a Polônia.

Como já mencionei, Varsóvia é uma cidade com muita história, foi palco de importantes fatos históricos não só para a cidade mas para todo o país, portanto existem inúmeros museus, galerias de artes, parques para serem visitados, alguns são imperdíveis e precisam ser visitados para que o turista realmente sinta e entenda a alma da cidade, eu recomendo que as pessoas fiquem no mínimo 3 dias em Varsóvia.

LT: Nesse momento a Rússia está causando uma guerra contra a Ucrânia, país vizinho a Polônia, como está sendo o impacto dessa guerra na vida dos poloneses e como ela pode impactar o turismo?

Gizelli: Polônia e Ucrânia tem uma história conjunta milenar. Alguns territórios que hoje são da Ucrânia, já foram da Polônia, até o final da Segunda Guerra Mundial.

Possuimos fatos históricos que já uniram e já afastaram as relações dos dois países. Mas hoje, alguns desses fatos um pouco desagradáveis já foram superados e fazem parte dos livros de história.

Com a invasão russa na Ucrânia estamos vendo uma imensa onda de solidariedade com nossos vizinhos. Até agora somos o país que mais recebeu refugiados e a Polônia inteira está mobilizada para receber e ajudar da melhor forma em tudo o que for possível.

Todos estamos apreensivos e torcendo para que isso acabe logo, e o impacto que notamos mais facilmente é sem dúvidas em relação a quantidade de pessoas chegando.

Quanto ao turismo, as agências de turismo tem se preocupado em relação ao número de leitos disponíveis, pois muitos hotéis, hostels e apartamentos para temporadas foram disponibilizados para receber os refugiados ucranianos.

 

Ucranianos atravessam a fronteira com a Polônia

 

LT: A culinária polonesa não é muito conhecida por nós. Fale um pouco sobre a gastronomia em Varsóvia e existe um prato típico que seja da cidade?

Gizelli: A culinária polonesa tem forte influência de outras cozinhas, como a turca, alemã, italiana, francesa, russa, húngara e judaica, então encontramos pratos para todos os gostos.

Alguns pratos típicos não podem ser ignorados e não experimentá-los é um erro muito grave.

Varsóvia possui alguns pratos típicos da cidade, vou citar 3:

  • Śledź po warszawsku : O arenque sempre foi um peixe muito apreciado nas mesas da capital e por isso recebeu um modo de preparo exclusivo aqui na cidade. A coisa mais importante nesse prato, é a fina camada de mostarda que é passada em cada filé de arenque, em seguida, o peixe é enrolado bem apertado, perfurado com um palito e polvilhado com óleo. O arenque de Varsóvia é servido depois de ficar na geladeira por algumas horas.
  • Zrazy po warszawsku : Outro prato conhecido em toda a Polônia, que tem sua própria versão de Varsóvia, são os bifes enrolados, ou roladas como também são conhecidos. O prato na capital, é preparado sem pepino, como acontece em outras regiões.
  • Flaki po warszawsku : Nada mais é do que um sopa de tripas, é o prato típico de Varsóvia com maior valor sentimental entre os habitantes da cidade. A diferença entre a sopa do restante do país e a de Varsóvia, é que na sopa da capital, almôndegas de fígado são colocadas no prato.

Agora quando falamos de pratos típicos do país inteiro, sem dúvida nenhuma, o  mais conhecido, é o pierogi, que é tipo de pastelzinho cozido ou frito recheado, os recheios mais comuns são carne, repolho,cogumelo, russo (cebola e batata), tem também sua versão doce recheado com frutas.

Também bastante conhecido, o bigos é um guisado de repolho e carne, lingüiça e cogumelos.

As sopas barszcz (sopa de beterraba) e żurek (sopa a base de centeio, acompanhada de ovo cozido e lingüiça) também devem ser saboreadas.

Na sessão doces, deve-se experimentar os famosos pączki que são parecidos com nossos sonhos, os recheios de rosas e geleia de frutas são os mais comuns. Temos também a Kremówka, o doce preferido do Papa João Paulo II, que consiste em uma massa  folheada recheada com creme de nata.

Existem muitos outros tipos de pratos típicos e doces poloneses, só mencionei alguns para deixar um pequeno gostinho!

Na sessão bebidas, não posso deixar de mencionar a vodca. A vodca polonesa é conhecida mundialmente, então ela não precisa de muita apresentação, inclusive, em Varsóvia temos o Museu da Vodca Polonesa, onde aprendemos a história da bebida, aprendemos qual é a verdadeira vodca polonesa e no final temos uma pequena degustação de diferentes tipos de vodca. É imperdível!

 

Pierogi

 

Pączki

 

LT: Morando em Varsóvia há tantos anos qual lugar vocês mais gostam de ir, não como guia, mas como moradora? Um lugar que para você representa bem o que é a cidade de Varsóvia.

Gizelli: Eu sou totalmente suspeita porque sou completamente apaixonada por Varsóvia, então existem vários lugares que eu amo frequentar.

A Cidade Velha de Varsóvia é um dos meus lugares preferidos, foi aqui que a cidade nasceu, onde vemos a história nas palmas da nossas mãos, onde podemos sentir um pouco o clima de anos e anos atrás. A Cidade Velha é patrimônio da UNESCO pela sua reconstrução no pós guerra

Também adoro andar de bicicleta pela cidade, passear pelo boulevard do rio Vístula, frequentar os inúmeros parques da cidade.

Varsóvia tem muitas opções de lazer e com certeza vai agradar todo mundo que vier disposto a abraçar essa cidade linda!

 

Rio Vístula

 

 

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