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Round Trips

Round Trips: Capítulo 1 – Holanda

Por: Henrique Benitez Lopes | 15/02/2019

2019 é um ano de novidades para o liketour. Além, do já conhecido liketour cast, teremos novos conteúdos, com mais dicas e histórias de viagens para você.  Uma delas é a série de entrevistas no formato escrito, batizada de Round Trips*, onde conversamos com pessoas criadoras de sites e escritores de livros sobre turismo.

No capítulo 1 do liketour Round Trips, conversamos com, Daniel Duclos, é brasileiro mas, mora na Holanda desde 2007. Criador do site e Canal no Youtube ducsamsterdam.net, onde fala como é viver no país e dicas para quem vai visitá-lo. Fã de tecnologia, gosta de andar e mostrar a capital holandesa para os seguidores das redes sociais do site.

Round Trips*: No jargão do turismo Round Trips é a viagem completa de ida e volta.

Daniel Duclos

LT: Você mora na Holanda, desde 2007, quais foram as principais mudanças que você pode perceber no país nesses mais de 10 anos?

Daniel: É difícil separar o que são mudanças específicas da Holanda e mudanças que estão ocorrendo em âmbito global nesse período. Quando eu cheguei aqui, o iPhone ainda não tinha sido lançado no país (Steve Jobs havia acabado de anunciar o protótipo um mês antes). O mundo todo mudou muito nesses dez anos, e a Holanda também. Muitas coisas se transferiram para online (tem um tempo que não vou ao supermercado, por exemplo.). Muita coisa que o governo resolvia por carta, agora é online, muita coisa wireless (incluindo pagamento de transporte público, que era no papel e hoje é com chip NFC). Mas isso é um fenômeno mundial. Falando de Amsterdam especificamente, há mais comércio aberto aos domingos. Eu cheguei em 2007 vindo de São Paulo, acostumado com uma cidade 24 horas, e encontrei uma cidade que fecha cedo, e mal abria aos domingos. Amsterdam não é 24 horas, mas está cada vez mais sete dias por semana. Ah sim… outra mudança que notei na cidade foi… bem, vamos falar disso na próxima pergunta…

LT: Na parte turística, houve crescimento nesse tempo que você mora ai?

Daniel: Bastante crescimento. Isso foi outra coisa que mudou nesse tempo. Quer dizer, Amsterdam sempre foi turística, mas nesses anos houve um grande aumento (de brasileiros inclusive). Amsterdam passou a se preocupar em como distribuir esse fluxo (em vez de ter todo mundo concentrado na região central), e pensar em como manter o turismo de maneira sustentável para cidade e seus habitantes.

LT: O site foi iniciado como uma forma de comunicação com familiares, como ele se tornou um negócio, um trabalho para você?

Daniel: Foi o resultado de um longo trabalho de desenvolvimento e aprendizado. Eu trabalhava em TI (Tecnologia da Informação) e queria mudar de área, queria viver de escrever e criar. Eu vi a oportunidade para isso no surgimento do blog. Meu pai quando percebeu que queria viver de escrever, foi se tornar jornalista. O caminho para isso estava mais ou menos estruturado. Com o surgimento da internet, os modelos antigos de publicação se desestruturaram, e o que estava surgindo no lugar ainda não estava claro. O que percebi era que, em vez de ficar buscando o caminho antigo, eu poderia ajudar a determinar o novo modelo. O desafio então era duplo: escrever e criar, e criar um modelo de negócio que tornasse essa atividade sustentável. O aspecto multimídia, multi disciplinar de transformar minha paixão num modo de vida me atraiu, e me dediquei a esse desafio… E transformei o Ducs Amsterdam no meu negócio e meu trabalho. É um processo em constante evolução aliás. O modelo é fluído, muda constantemente, o que é outra coisa que me atrai: temos de ser, para citar o famoso verso, eternos aprendizes. No dia que chegar numa fórmula fixa de negócio, é o dia que perderei o negócio. Estou sempre buscando novos modelos de negócio e novas plataformas de criação.

 

Blog criado por Daniel Duclos.

LT: Os europeus em geral tem a fama de serem fechados a outros povos, mas os holandeses têm uma boa imagem aqui no Brasil.  Como é a receptividade dos holandeses com os turistas?

Daniel: Os holandeses são, em geral, bastante receptivos com turistas, ao menos comparado com alguns outros lugares que visitei. Há uma boa vontade em ajudar o turista, e um entendimento do turismo como fonte de renda. Os holandeses têm orgulho de falarem muitas línguas, e uma longa tradição de marinha mercante, que se beneficia da atitude de querer superar barreiras culturais em nome de fazer negócio. Amsterdam tem longa tradição de ser um porto onde se encontra gente de todo o mundo. Isso está no DNA da cidade. Isso se manifesta até mesmo quando o aumento exponencial do turismo concentrado nas áreas centrais passou a ser um desafio à vida local. Em vez da atitude ser “mandar turista embora”, está sendo em distribuir o turismo por outras áreas da cidade, e para outras cidades da Holanda, transformar o turismo em um ato de colecionar selfies em frente a atrações famosas e um ato de descoberta da cultura holandesa.

LT: Amsterdam é uma cidade com muitos museus, cafés e atrações. Quantos dias você recomenda para conhecer bem a cidade?

Daniel: Olha, estou aqui há onze anos e ainda não acho suficiente… Amsterdam tem o suficiente para te manter ocupado o tempo que você tiver para passar aqui, de um dia a uma vida toda. Então acho que a pergunta que o turista deve se fazer é “quanto tempo eu quero passar em Amsterdam?”. Vai ser divertido o tempo que for. Se faz questão absoluta de um número, muita gente passa entre três e quatro dias. É um bom começo, mas eu já vou avisar que a vontade de voltar (muitas vezes permanentemente) é um efeito colateral comum de visitar Amsterdam.

 

A Casa de Anne Frank é uma das principais atrações turísticas de Amsterdam

 

LT: Qual a melhor idade para visitar a Holanda, as atrações são mais para jovens e adultos, ou é possível uma família com crianças visitar e curtir o país também?

Daniel: Amsterdam é para todas as idades, literalmente. Família com filhos (bebês, crianças, adolescentes), casais, solteiros, solo, grupo de amigos, Amsterdam é de e para todos. Sobre crianças especificamente: eu tenho dois filhos e não me imagino criando eles em cidade melhor para crianças. Adoro! Sobre a Holanda, há anos é escolhida como o país com as crianças mais felizes do mundo. Pode vir com a criançada!

LT: A Holanda é um país cortado por canais e com poucas habitações, inclusive, tem pessoas que moram em barcos. Para o turista, e melhor se hospedar em um hotel, ou alugar um apto?

Daniel: O Aluguel de apartamentos para estadia de curta duração é bastante controverso aqui… Justamente por haver uma escassez de espaço, os imóveis são muito disputados, e há consequências sociais de se usar um imóvel para hospedagem quando há escassez para moradores. Além disso, isso cria um problema no zoneamento da cidade: áreas que não são comerciais de repente estão sendo usadas para esse fim: hotéis tem de respeitar o zoneamento, e quem mora ao lado de um sabe terá um negócio como vizinho. Isso não é verdade quando se descobre que seu vizinho no seu prédio residencial é um apartamento para hospedagem. Isso pode gerar atritos na convivência. Note que eu não estou dizendo que eu sou contra alugar um apartamento, apenas estou explicando a discussão que é levantada localmente aqui, e que de repente você deve estar a par para tomar sua decisão.

LT: No site ducsamsterdam.net você tem um link sobre Comida & Bebida, se você fosse escolher apenas uma das sugestões do site, qual não pode deixar de experimentar?

Daniel: A torta de maçã. Essa é a verdadeira torta holandesa (o doce que leva esse nome no Brasil é na verdade uma invenção brasileira desconhecida por aqui).

Torta de maçã holandesa. Obrigatório experimenta-la.

LT: Muitas grandes cidades são conhecidas por terem trânsitos caóticos, mas em Amsterdam o tráfego é de bicicletas.  Como é a organização do trânsito, visto que a bicicleta é uma prioridade, algo bem atípico para nós no Brasil?

Daniel: A Holanda nem sempre foi um país ciclista. Isso ocorreu a partir dos anos 1970, com diversos protestos populares exigindo infraestrutura e apoio para o ciclismo em lugar do automóvel. Isso foi, como se pode notar, extremamente bem sucedido. Ë até curioso ver fotos dos anos 50 com locais hoje fechados aos carros, com engarrafamentos. A bicicleta é prioridade no trânsito, não apenas com infra, mas também com leis de apoio ao ciclista. Por exemplo, em qualquer acidente envolvendo carro e bicicleta, o carro é culpado até prova em contrário. Cabe a ele o ônus da prova de que o ciclista provocou o acidente. Isso torna carros menos atraentes e motoristas muito, muito mais cautelosos. Além disso, ajuda que o motorista é também, em algum ponto da vida dele, também um ciclista.

Mas a Holanda não está satisfeita ainda com o número de carros, e está investindo ainda mais em infra para bicicletas, transporte público (Amsterdam acabou de inaugurar outra linha de metrô em 2018), leis (Amsterdam está retirando as scooters das ciclovias), e a Holanda tem como objetivo eliminar o motor a combustão das ruas até 2030.

Hey, é um país boa parte abaixo do nível do mar, eles levam aquecimento global extremamente a sério. Se o mar sobe, a Holanda some.

Em Amsterdam as bicicletas são o principal meio de transporte.

 

LT: A Holanda é um país pequeno, eu ficando em Amsterdam, quais outras cidades eu consigo conhecer de bate volta?

Daniel: Existem muitas e excelentes opções perto de Amsterdam. Cidades como Utrecht, Haarlem, Delft, Rotterdam, Den Haag (Haia) são excelentes passeios de bate e volta. Além disso, pode visitar Zaanse Schans (a vila dos moinhos), ou Muiderslot (castelo medieval). E isso é apenas o começo. A Holanda é bem maior por dentro do que por fora.

Zaanse Schans: A vila dos moinhos.

Muiderslot

LT: Para ir para essas outras cidades a partir de Amsterdam, qual melhor opção de transporte, ônibus, trem, barco ou carro?  

Daniel: Depende da cidade. A maior parte delas é trem: a Holanda tem excelente estrutura ferroviárias. Mas há cidades que o melhor é ônibus. Carro, eu recomendo se você quiser fazer várias no mesmo dia.

LT: No instagram, você tem mais de 25 mil seguidores, que fazem perguntas sobre a Holanda. Qual a pergunta mais comum e a mais inusitada que você já recebeu?

Daniel: As duas perguntas mais comuns são “como vai estar o clima quando eu estiver por aí?” e “me dá uma dica de hotel?’. Essa e muitas outras, claro, estão respondidas no blog. Mas eu recebo todo tipo de pergunta, de pedidos de conselho de vida altamente pessoais à perguntas sobre países que nunca estive. Eu sempre procuro ouvir e ajudar como eu posso, e as perguntas são um excelente termômetro do interesse das pessoas. Quando começam a se repetir, caso ainda não tenha a resposta no blog, eu escrevo um post sobre isso.

https://www.ducsamsterdam.net/

Instagram: @ducsamsterdam

Youtube: canalducsamsterdam

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